terça-feira, 11 de novembro de 2014

644. Metade dos portugueses vai ao dentista menos de uma vez por ano

De acordo com os dados divulgados no Congresso da Ordem dos Médicos Dentistas, 8,3% dos inquiridos nunca foi ao dentista e 21,2% diz que só vai quando tem um problema dentário, uma urgência ou dor. Dos mais de mil entrevistados, 20,9% revelaram ter diminuído o número de visitas ao dentista no último ano, com a questão monetária "a ser o principal motivo evocado para não ir".
São menos de um quarto os portugueses que indicam ir ao dentista duas ou mais vezes por ano, enquanto cerca de metade (48,8%) dos portugueses afirma realizar um 'check-up dentário' menos de uma vez por ano. Dos inquiridos, 51,5% acreditam que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não disponibiliza serviços de medicina dentária e apenas 10,2% já recorreram a unidades públicas quando precisam de serviços de saúde oral.
Num comentário a estes resultados, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas considerou que Portugal "precisa de trabalhar no acesso dos portugueses ao médico dentista", criando "mecanismos que ajudem as pessoas a poder" tratar da saúde oral. "Não há em Portugal possibilidade de a generalidade da população fazer um acompanhamento adequado da saúde. O país já tinha um problema de acessibilidade, porque o SNS nunca deu resposta a esta área. Como não há mecanismo que comparticipe ou ajude os portugueses à consulta regular, os portugueses pagam do seu bolso estas consultas. E com a crise económica é afectada a capacidade da população que tinha acesso ao dentista", resumiu Monteiro da Silva.
As conclusões do primeiro Barómetro Nacional de Saúde Oral mostram ainda que 70% dos portugueses têm falta de dentes naturais, sendo que mais de 20% tem falta de pelo menos 10 dentes e 7% da população portuguesa não tem qualquer dente natural. O barómetro revela também que "56,1% dos portugueses que têm falta de dentes naturais não têm nada a substituí-los". Apenas 7,7% têm dentes substitutos fixos, sendo que os restantes 36,2% possuem prótese. "Metade dos inquiridos admite que já sentiu dificuldades em comer e/ou beber devido a problemas na boca e nos dentes e 18% confessa que já se sentiu envergonhado por causa da aparência dos seus dentes", constatam.. 
Sobre os hábitos de sáude oral, o estudo revela que os portugueses cumprem o básico "mas poucos têm hábitos mais sofisticados". "Se 97,3% afirma ter por hábito escovar os dentes, contudo, 54,4% não usa elixir e 76,2% admite não usar fio dentário. Dos que escovam os dentes, 72,7% fazem-no duas ou mais vezes por dia", especifica o documento.
Os resultados do barómetro também permitem concluir que "as mulheres apresentam taxas de hábitos de higiene e limpeza superiores aos homens". "A falta de dentes naturais, com exceção dos dentes do siso, está correlacionada com o hábito de escovar os dentes, na medida em que quantos menos dentes naturais possui quem respondeu, menores são os seus hábitos de higiene", lê-se no comunicado com as conclusões.
O inquérito revela ainda que os portugueses (93,5%) estão satisfeitos ou muito satisfetios com o seu médico dentista.  "De sublinhar que 63,7% dos portugueses nunca mudaram de médico dentista. Os principais factores de fidelização são a confiança no médico dentista, a qualidade nos serviços prestados e a habituação", adianta o documento que sublinha ainda que a maioria dos portugueses (64,5%) esclarece as suas dúvidas de saúde oral junto do seu médico dentista, em prejuízo de outros meios, como a internet.
O primeiro barómetro nacional de saúde oral foi feito tendo por base 1102 entrevistas presenciais, tendo validade estatística.
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É muito urgente que seja definida uma estratégia nacional no âmbito da saúde oral e da medicina dentária. Enquanto as organizações ligadas à saúde oral persistirem inocuamente em querer trabalhar sem cooperar colectivamente com todas as restantes entidades, a saúde oral dos portugueses vai-se degradando e são sempre as classes sociais menos favorecidas que pagam os erros dos dirigentes incapazes de dar as necessárias respostas à população.
Para quando uma verdadeira união de vontades entre os médicos de medicina oral, os higienistas orais e os estomatologistas, tanto do sector público como do sector privado, para fazer face à ausência de uma estratégia de saúde oral no nosso país?
Basta de tanta hipocrisia: enquanto alguns sectores da medicina dentária ficam satisfeitos com algumas benesses dadas pelo poder político, os serviços de saúde oral continuam a ser negados à maior parte da população.